sexta-feira, 26 de abril de 2013

Liberdade para o ladrão!

O Juiz Ronaldo Tovani, 31 anos, substituto da comarca de Varginha, ex-promotor de justiça, concedeu liberdade provisória a um sujeito preso em flagrante por ter furtado duas galinhas e ter perguntado ao delegado: "desde quando furto é crime neste Brasil de bandidos?". O magistrado lavrou então sua sentença em versos:
 
No dia cinco de outubro
Do ano 'inda fluente,
em Carmo da Cachoeira,
Que é terra de boa gente,
Ocorreu um fato inédito
Que me deixou descontente.
O jovem Alceu da Costa,
Conhecido por Rolinha ,
Decidiu, de madrugada,
Que sairia da linha,
Subtraindo, de outrem,
Duas preciosas galinhas.
Dentro de um saco plástico
Que ali mesmo encontrou,
O gatuno, muito esperto,
Escondeu o que furtou,
Deixando o local do crime
Da maneira como entrou.
O senhor Gabriel Osório,
Que, em seus poleiros, viu rastros,
Percebeu logo ter sido
A vítima do grave ato;
Procurou a autoridade
Para relatar-lhe o fato.
Ante a notícia do crime,
A polícia, diligente,
Tomou as dores d'Osório
E formou seu contingente:
Um cabo, quatro soldados
E, no comando, um tenente.
Assim é que o aparato
Da polícia militar,
Atendendo à ordem expressa
Do "Delega" Titular,
Não pensou em outra coisa,
Senão em capturar.
E, depois de algum trabalho,
O larápio foi encontrado
Num bar e capturado.
Não esboçou reação,
Sendo conduzido, então,
À frente do Delegado.
Perguntado pelo furto
Que havia cometido,
Respondeu Alceu da Costa,
Bastante extrovertido:
Desde quando furto é crime
neste Brasil de bandidos? .
Ante tão forte argumento,
Calou-se o Delegado,
Mas, por dever ofício,
O flagrante foi lavrado,
Recolhendo, à cadeia,
Aquele pobre coitado.
E, hoje, passado um mês
Da acontecida prisão,
Me chega às mãos o inquérito
Que me parte o coração:
Solto ou deixo engaiolado
Esse mísero ladrão?
Soltá-lo é decisão
Que a nossa lei refuta,
Essa lei que só se aplica
A pobres, pretos e putas...
Por isso, encareço a Deus
Que norteie minha conduta.
Eis então minha decisão,
Que, pra muitos, é assombrosa:
Não deve ir pra prisão
Quem furtou duas penosas,
Se, também, não estão lá presas
Pessoas bem mais charmosas.
Afinal não é tão grave
Aquilo que Alceu fez.
Pois nunca foi do Governo,
E nem dele foi freguês,
Não mamou no Mensalão
Nem por certo, nem talvez.
Desta forma lhe concedo,
Nessa causa vexatória,
Que, por ser, já o puniu
Liberdade provisória,
Para que volte para casa
E passe a viver na glória.
Se buscar ser homem honesto
E afastar-se da má trilha,
Que fique em Cachoeira
Ao lado de sua família,
Mas, se não houver emenda,
Será banido pra Brasília.

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